quarta-feira, 16 de abril de 2014

A traição de Judas





Traição! Mistério da liberdade e da culpabilidade humanas. O homem foi salvo para ser livre. Mas nem todos os homens sabem lidar com a própria liberdade. Muitos ainda não entendem que “A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão” (Massimo Bontempelli). “A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência”, dizia Mahatma Gandhi.

Todos os evangelistas sublinham que Judas Iscariotes sempre vai atrás de dinheiro. Esta é a explicação do por quê da traição de Judas. Lembremo-nos que quando escolhermos alguém por causa de seu dinheiro, acabaremos nos tornando uma mercadoria. O alerta de Voltaire vale para todos ao escrever: ”Quando se trata de dinheiro, todos tem a mesma religião”. Muitas das brigas dentro das famílias e fora delas, dentro da Igreja e fora dela, dentro da política e fora dela estão em torno do deus- dinheiro. Em nome do dinheiro Judas vendeu seu Mestre, Jesus.

Como no dia anterior, o evangelho fala novamente da traição de Judas, 
mas desta vez na versão do evangelho de Mateus. Os detalhes precisos são diferentes, porém o sentido é o mesmo. 
Precisamente quando Jesus quercelebrar a Páscoa de despedida dos seus, como sinal entranhável de amizade e comunhão, um dos discípulos vai trair Jesus Cristo com 
apenas trinta moedas de prata, o preço de um escravo segundo Ex 21,32.

“Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato”, disse Jesus aos 
discípulos.“Por a mão nomesmo prato” durante a refeição, para um hebreu,é um gesto de 
comunhão, um gesto simbólico de amizade. Pode-se dizer que, da parte de Jesus há oferecimento de uma amizade para Judas. Jesus também fez refeição com os 
pecadores para oferecer-lhes seu amor. 

A Eucaristia é uma refeição na qual Jesus nos oferece a comunhão com Ele: “Quem come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele”. 
Cada Eucaristia é um gesto de amor de Jesus para os pecadores que somos nós 
quando não recusamos seu amor.

Judas se condena ao recusar a tentativa de Jesus de ser seu amigo. 
Judas prefere dinheiro ao oferecimento de amor e de salvação. Ele vendeu o Mestre por trinta moedas de prata.

A traição de Judas é sempre impressionante por ter lugar precisamente no círculo 
mais intimo e próximo do Senhor. É exemplo arrepiante que nos revela a profundidade do coração humano, capaz de sentimento mais nobre como o amor, a amizade, o sacrifício pelo bem dos outros, a solidariedade etc., mas também é
capaz do mais vil: o ódio, a traição, a maldade e assim por diante. 
Tudo isto é fruto da liberdade do homem que Deus respeita totalmente, 
Mas o próprio homem é que carrega as consequências, pois Deus nunca 
faz mal para o homem.

Quando o homem emenda o plano de Deus, quando crê que sabe de tudo mais do que o próprio Deus, quando decide em nome de Deus, o homem cai em pecado. É igual àquele que não viveu nem sofreu a conversão: será muito difícil poder dar frutos bons. O demônio “nunca quer” coisas más e sim “coisas boas”, porém pelo caminho inadequado. O pecado procura conseguir coisas boas pelo caminho equivocado: por exemplo, pelo roubo ou furto. Matamos Jesus Cristo toda vez que o trairmos, atuando por nossa conta e risco, solidarizando-nos com o pecado.

O caso de Judas deve nos fazer refletir, porque no fundo de nosso coração 
mora um possível santo ou um possível traidor ou criminoso. Há amigos incondicionais de Cristo e há também falsos amigos, sem contar, obviamente, os inimigos declarados.

A traição jamais estará ausente do cristianismo. Somos seres humanos. 
Mas a comunidade cristã deve cuidar que os ensinamentos de Jesus sejam claros e explícitos para todos os seus participantes. Assim não haverá surpresas. O fato de ser cristãos pela tradição (ou pela herança de nossos pais) e não pela luta, trará sempre o risco de não nos identificarmos com as exigências do Reino. Se começarem a aparecer os interesses pessoais ou os de grupo, necessariamente aparecerá a traição. Um cristianismo sem clareza e sem o processo de assimilação 
com os ensinamentos de Cristo, será um campo fértil para a traições, desilusões e amarguras. Na medida em que qualquer cristão deixar de estar de acordo com os ensinamentos ou com o projeto de Jesus, ele trairá Jesus, seu Salvador. Ainda que possamos justificar nossas traições, nossa alma ficará sempre ferida.

Portanto,precisamos sempre estar vigilantes para que o traidor dos valores não faça 
sua moradia em nosso coração. Sem vigilância e oração seremos novos Judas 
na convivência com os demais e venderemos a dignidade dos outros por 
interesses baratos. Como verdadeiros cristãos, devemos respeitar sempre 
a dignidade dos outros, pois eles também são Templos de Deus 
e por isso, são sagrados.

Ao vender seu Mestre, Jesus, com algumas moedas de prata, Judas se vendeu. Uma traição fatal acaba fatalizando a vida de quem a comete, como aconteceu com Judas Iscariotes. Judas “atirando as moedas no Templo, retirou-se e foi enforcar-se” (Mt 27,5).

Fonte: Carmelo do Sagrado Coração de Jesus e Madre Teresa

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