Caros colegas, nossa missão como catequistas, principalmente catequese infantil, nos deixa sensíveis aos abusos às nossas crianças. A culpa é nossa: pais, mães e responsáveis que aceita da mídia tudo que nos é imposto. Inserem nas nossas casas coisas de má qualidade emocional, nós aceitamos e ainda acreditamos que é bom... veja este artigo que li em um jornal esta semana, e caridosamente o Sr. Henrique França, que escreveu o artigo, nos cedeu.
O desejo por criancinhas e a morte do bom senso
Henrique França
@RiqueFranca
A imagem é de uma beleza deslocada: vestida em tom dourado, com jóias pesadas nos pulsos e tornozelos, decote abaixo da linha do tórax, cabelo cuidadosamente ‘armado’ e salto alto agulha, inclinada sobre uma cama com lençóis de onça, rodeada por coelhos vivos. Os oIhos que encaram as lentes do fotógrafo – e consequentemente quem olha para a foto – buscam um tom de sensualidade. Porém, quem está na cena, envolta em todo esse aparato, é simplesmente uma criança de dez anos. Trata-se de Thylane Lena-Rose, uma modelo-mirim francesa queridinha do mundo da moda que vem sendo transformada em ícone do atropelamento de fases da vida.
Entre as fotos de modelos-mirins divulgadas na Internet, esta semana, algumas calam o observador, envergonhado pelo que vê. Afinal, o que dizer diante de uma fotografia onde crianças-modelo se posicionam sobre uma cama luxuosa como se fossem um casal de amantes? Pior: enquanto a menina esboça uma expressão triste ou indiferente, o garoto – irmão, amigo, namoradinho? – insinua atirar-lhe um travesseiro. Mas não se engane. Eles não estão brincando de guerra de travesseiros. Novamente, aqui, há uma clara nuance adulta no cenário. Que necessidade é essa de “adultizar” as crianças?
Antes que o julgamento da situação se coloque, entretanto, é preciso alertar que há outros enfoques na questão. Não apenas de mini-top-models vive o vergonhoso mundo da exposição infantil. Não raro as ‘passarelas’ onde desfilam esses pequenos cidadãos estão diante de nós, pertinho. Quem nunca se incomodou com o excesso de “adutização” de novíssimos apresentadores de TV, com vozes imaturas e atitudes que apenas imitam quem deveria agir com maturidade. Estariam elas prontas para assumir tanta carga de responsabilidade? Aliás, elas deveriam estar prontas para isso?
É possível ir além e chegar mesmo às instituições mais tradicionais, como templos religiosos. Basta acessar canais de vídeo na Internet para encontrar “pastorezinhos”, “mini-missionárias” e afins berrando diante de uma platéia extasiada com o pequeno neo-sacerdote. Há casos tão absurdos em que os pequenos astros sequer sabem falar. O problema não está em querer ser, em brincar de ser, mas em ser. Pior: em receber de algum adulto infantilizado a incumbência de ser um adulto em corpo de criança. No caso das fotografias da menina Thylane e outras pequenas modelos “adultizadas”, não seria exagero aproximar seus ensaios e excessos ao desejo doentio de pedófilos mundo afora.
Se nos aprofundarmos mais, podemos nos envergonhar. E se a questão for “como você lida com isso dentro de casa, com seus filhos?”. Seria irônico não fosse crônico perceber pais, responsáveis, autoridades em geral vociferando contra o abuso, inclusive sexual, a crianças e adolescentes ao passo em que gargalham diante de meninos e meninas dançando canções que expõem o corpo, que afirmam desvalorização do ser humano, que tratam mulheres como objeto e homens como garanhões. Seria surpreendente não fosse triste nos darmos conta do que talvez não tenhamos entendido: que a religiosidade essencial a uma criança passa ao largo dessa pequena pegar um microfone, gritar palavras de ordem, realizar mini-exorcismos e ser aplaudida.
Sim, somos responsáveis. Acessar o site, olhar as imagens, assistir aos vídeos, lidar com crianças-adultizadas na família, no círculo de amizades e gargalhar como se tudo fosse naturalmente moderno pode ser doentio – se não para o adulto, certamente para a criança. Não é de causar admiração que o tratamento dado aos pais de uma modelo de 15 anos e que entraram com ação contra a empresa que usou fotos de sua filha em poses extremamente sensuais – com as pernas abertas sobre uma motocicleta – estejam sendo chamados por muitos de “puritanos” ou “exagerados”.
Aliás, quantas vezes durante a leitura deste texto você pensou em algo assim? Sejamos um pouco mais “exagerados” na vida, para não matarmos de vez a decência, o bom senso.
(*) Texto publicado na coluna #CotidianaMente, do Jornal A União, edição de 23 de agosto de 2011
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