Meus irmãos. Pedi a um colega catequista da nossa paróquia, para escrever um artigo para o blog: O Homem Cristão.
Ele escreveu, mas pediu encarecidamente que não divulgasse o seu nome. Respeitando seu desejo, vou deixar um pseudônimo.
Abraços e boa leitura!
Luciana Dias
2ª Leitura do 27º Domingo
do Tempo Comum, em 05 de outubro de 2014.
“6Não vos inquieteis com
coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e
súplicas, acompanhadas de ação de graças. 7E a paz de
Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e
pensamentos em Cristo Jesus. 8Quanto ao mais, irmãos,
ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável,
honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor. 9Praticai o que aprendestes e recebestes de mim, ou que de mim vistes e
ouvistes. Assim, o Deus da paz estará convosco” (Fl 4, 6-9).
Para que discorramos sobre este
tema, é necessário que você, caro leitor, não deixe de percorrer este texto em
sua integra, desejando ardentemente ruminá-lo e não apenas lê-lo. É para
orarmos e não apenas para lermos. Se apenas o fores ler, provavelmente não
encontrarás sentido, significado ou compreensão. Se procurares rezar com estas
meras palavras, acredito que possa ser apenas o início, uma inquietação, algo
que não sabemos onde a graça de Deus poderá nos levar.
Se aceitas a proposta, prepara-te para o mergulho. Peço-vos isto não pela
qualidade do que está escrito, mas pelo o que a graça de Deus em sua infinita
misericórdia pode ser capaz de nos revelar por meio dessas frases e orações limitadas
em seu contexto e, mais ainda pela capacidade de seu escritor, em alcançar seu
objetivo apenas por meio de palavras, mas que deseja que essas possam ser
digeridas e meditadas como oração. Se aceitas, peça ao Espírito Santo que o
guie nessa jornada segundo os seus designíos. Iniciemos orando:
- Senhor Jesus Cristo, é diante de tua presença que eu desejo está.
Diante de Ti, que me conheces
inteiramente, das minha limitações ás potencialidades que ainda nem imagino
possuir, envia-me Senhor Jesus, nesse momento, o teu divino Espírito Santo,
para que possas afastar de mim, tudo aquilo que me separa da Tua vontade, que
me separa daquilo que Tu tens para mim. Vem Espírito Santo e conduza-me
conforme a Tua vontade. Amém!
Antes de iniciarmos nosso tema propriamente, é interessante que tenhamos
conhecimento sobre o significado de cada termo que compõem esta proposta. Homem, de acordo com o dicionário
Aurélio, é um mamífero primata, bípede, com capacidade de fala, e que constitui
o gênero humano. Já o termo cristão,
se refere a aquele que professa a religião de Cristo.
Para Deus, o homem não é apenas um animal, não se diferencia dos outros
animais apenas pela sua capacidade de acumular conhecimentos e de poder transmiti-los
através de um conjunto de métodos aos quais chamamos de cultura. Para Deus, o
homem é sua imagem e semelhança (Gn 1, 26).
O cristão, tal como mencionado pelo dicionário Aurélio, é aquele que
professa, ou seja, que confessa, que reconhece publicamente a religião de
Cristo. Então, qual é a religião de Cristo? Qual o seu grande mandamento?
“Eu dou a vocês um mandamento novo:
amem-se uns aos outros. Assim como eu Amei vocês, vocês devem se amar uns aos
outros. Se vocês tiverem amor uns para com os outros todos reconhecerão que
vocês são meus discípulos” (Jo 13, 34-35).
Aquele que professa que Jesus Cristo é o seu Senhor, coloca-se como servo
e, assim sendo, atende a seu pedido que é dirigido a todo batizado: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se
tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho, e do Espírito
Santo” (Mt 28,19).
Para sermos capazes de atender a este pedido, é necessário compreendermos
o amor salvífico de Deus para conosco, “pois Deus amou de
tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que Nele
acredita não morra, mas tenha vida eterna” (Jo 3, 16).
Primeiramente devemos acolher esta verdade em nossos corações. Feche seus
olhos e repita: “Deus me ama!” - repita e acolha essa verdade em seu coração –
“Deus me ama, sou amado!”
Amar é cuidar, é ter zelo, é doar-se em favor de outro mesmo quando o
outro não reconhece esse amor. Assim é que Deus nos ama. Um amor eterno. Mesmo
quando nos afastamos dele, “mesmo se formos
infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode renegar-se a si mesmo” (2 Tm 2, 13).
Deus me ama ao extremo, a ponto de entregar seu Filho para que eu tenha
direito a uma vida eterna. Deus me ama, por isso me fez a sua imagem e
semelhança. Repita e acolha essa verdade em seu coração: “Sou imagem e
semelhança de Deus”.
Por reconhecimento deste amor, atendemos ao pedido de Jesus e, por amor a
Ele, por sua misericórdia, pelo poder do seu Espírito, somos chamados da
seguinte forma: “Se alguém quer me seguir, renuncie a
si mesmo, tome a cada dia a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua
vida, vai perdê-la; mas quem perde sua vida por causa de mim, esse a salvará”
(Lc 9, 23-24).
Renunciar a nós mesmos, deixar de fazer a nossa vontade para fazermos a vontade
do Pai, carregar a nossa Cruz a cada dia – assumirmos o nosso compromisso de
sermos cristão, se nos comportarmos como tal, podemos segui-Lo.
Este apelo de Deus se estende à todos. Todos, sem exceção, são chamados,
pois “Se o injusto se arrepende de todos os
erros que praticou e passa a guardar os meus estatutos e a praticar o direito e
a justiça, então ele permanecerá vivo, não morrerá... O que eu quero é que ele
se converta dos seus maus caminhos, e viva” (Ez 18, 21. 23); “pois eu desci do
céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim para fazer a vontade Daquele
que me enviou. E a vontade Daquele que me enviou é esta: que eu não perca
nenhum daqueles que Ele me deu, mas que eu os ressuscite no último dia” (Jo 6,
38-39).
O homem cristão, a mulher cristã, todos somos chamados a sermos
seguidores, anunciadores, a cumprir nossa missão, pois “anunciar
o Evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade
que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (I Cor 9,16).
Seguir a Cristo, ser cristão..., parece ser meio exigente, mas não
parece, é muito exigente! Exigente demais! Ao todo, pois é assim que Deus nos
quer, por inteiro. Livres, mas por inteiro, para que assim possamos dar um novo
sentido às nossas vidas, pois Ele nos diz: “Derramarei sobre
vocês uma água pura, e vocês ficarão purificados. Vou purificar vocês de todas
as imundices e de todos os seus ídolos. Darei para vocês um coração novo, e
colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de
pedra, e lhes darei um coração de carne” (Ez 36, 25-26).
Este é o grande prêmio a ser alcançado, um coração novo, restaurado,
repleto de paz, da verdadeira paz que só pode ser encontrada em Deus, pois só
Ele pode nos preencher por completo. Todos nós trazemos, intrinsicamente, um
desejo de eternidade e quando não o preenchemos em Deus, procuramos preenche-lo
com as migalhas que o mundo nos oferece, daí surgem os vícios de toda sorte e
quanto mais nos entregamos à eles, maior é o nosso vazio, nossa tristeza,
decepção, desencantamento até com a nossa própria vida. Por isso, muitos não a
suportam e a vivem de modo como se procurassem a morte e muitos recorrem a esta
como a sua última alternativa para a busca de paz, por isso, praticam suicídio
em vida, e muitas vezes, o praticam quando ainda vivos, vivem como se já estivessem
mortos. Vemos os casos, lemos as notícias e não entendemos o porquê de tal
atitude, tinham de tudo, tudo que muitos lutam para conseguir e por uma vida
inteira não almejam e eles, por que fizeram isso? Tinham tudo e descobriram que
seu tudo não significa nada, pois são passageiros, transitórios, ilusórios,
aprisionantes.
Decepcionados, desiludidos, se nunca lhe mostraram Deus, onde encontrar
paz, onde encontrar algo que lhes possa dar ânimo, sentido a suas vidas
fatigadas?
Ser um ‘Homem Cristão’, é lembrar-se, tal como Santa Teresa de Ávila: só
Deus basta! Por isso, o ‘Homem Cristão, é chamado a não inquietar-se com nada,
este sabe que tudo passa, que tudo em nossa vida é passageiro, por mais que
dure 1, 5, 10, 20, 50, 100 anos, ainda é um tempo muito curto diante da
eternidade que nos aguarda. Tudo passa, só Deus fica, só Ele permanece, só Ele
pode nos dar uma vida nova, uma vida eterna, uma vida que supera todo o tempo
presente, como nos lembra São Paulo em sua carta aos Romanos (8, 18): “Penso que os sofrimentos do momento
presente não se comparam com a glória futura que deverá ser revelada a nós”.
Por isso, o ‘Homem Cristão’ é aquele que acredita em Deus, que Lhe
entrega todas as suas necessidades, é aquele que se põe a serviço, pois ouviu o
seu ensinamento; “Pois bem: eu, que sou o Mestre e o
Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros”
(Jo 13, 14); por isso, não mede esforços para evangelizar, pois sabe
em quem colocou sua esperança. A sua paz e alegria estão no Senhor. Compreende
que sua vida, mesmo estando a serviço, é um tempo muito curto. Há muito a se
fazer em prol do Reino de Deus. Assim, o cristão deve ocupar-se apenas das
coisas que possam ajuda-lo em sua caminhada, alimentada e fortalecida pela
certeza do cumprimento da palavra de Jesus: “Se alguém me
ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos
nele a nossa morada” (Jo 14, 23).
Por isso repito, ser cristão é reconhecer-se como imagem e semelhança de
Deus, é entendermos que somos amados, queridos, desejados, que somos parte dos
sonhos de Deus. Repita: - Deus me ama! Deus me ama e me fez a sua imagem e
semelhança. Deus me ama, por isso doou-se por mim. Deus me ama! Sou amado!
Amor só se responde com amor, por isso, devemos cumprir o seu mandamento,
amarmos uns aos outros. É impossível encontrar-se com Deus e não mudarmos
nossos caminhos. É impossível encontrar-se com Deus e não querer que outros
também o encontrem.
Deixo a cada um de nós um questionamento, uma autoavaliação. Reconheço o
amor de Deus por mim? Tenho sido imagem e semelhança de Deus? Em que atitudes e
comportamentos eu tenho sido o oposto da vontade de Deus? Se não reconheço a
semelhança de Deus em minhas atitudes, o que devo fazer?
Termino aqui com o que espero que seja o início de um novo diálogo, de
uma abertura a graça de Deus, fazendo ainda, se me permitem, uma adaptação,
digo-vos isto: “12Não que eu já tenha
conquistado o prêmio ou que já tenha alcançado à perfeição; apenas continuo
correndo para conquista-lo, porque eu também fui conquistado (quero
desejar ser conquistado) por Jesus Cristo. 13
Irmãos, não acho que eu já tenha alcançado o prêmio, mas uma coisa eu faço:
esqueço-me (quero desejar esquecer) do
que fica para trás e avanço (quero, que pela misericórdia e pelo
poder do Espírito Santo de Deus, eu possa avançar)
para o que está na frente.14 Lanço-me em direção a meta, em vista do
prêmio alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo”.
Que Deus nos conceda a graça do
acolhimento. Fiquemos em paz e que Deus nos abençoe, amém.
MS Bananeiras
Bananeiras, 05 de outubro de 2014.
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